segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Cereja Ice

Chicletes. Chicletes saciavam-me. De todos os formatos e sabores. Quaisquer que fossem, não importava mais.

Ele me preenchia. Não necessitava mais do que um simples chiclete na calçada para perceber que era raro, que era pra mim. Naquele singular momento ele era minha conversa mais sincera. Ele era meu, por um instante que fosse, por um chiclete. Ele era meu amigo. Bonito era como ele voltava toda a atenção a mim, como conseguiu se desprender de tudo e notar-me. Bonito era como num olhar a gente se compreendia, como em uma palavra a gente se consolava. Bonito era ele, sempre fora.

Altruísmo, a melhor palavra para designá-lo. Isso se pudesse limitá-lo à palavras. Não podia, nem devia. Ninguém devia. Ele fora todas as minhas, todos os choros e consolos, todas as músicas e risadas, fora o que me fizera passar, e viver. Passaria horas em silêncio à sua companhia, e não precisaria de mais nada.

Com ele, eu era eu, e ele era ele, e isso, essas pequenas palavras juntas, era o que me fazia amá-lo.

De fato, o amo. Ouso ainda dizer que era o único em minha vida, meu único homem, meu melhor amigo.

Era repleto de sentimentos, completamente afundado neles. Não conseguiria não amar àqueles que ama, nem se tentasse. Não conseguiria ser rude ou grosseiro, não conseguiria não pensar em cada pessoa individualmente. Era incapaz de ser frio, ou sequer falso.

Escritor, um exímio escritor. Amante das palavras e histórias, amante do objeto, do assunto pelo qual adorava escrever. Sortuda era quando dividia seus textos comigo, não pude deixar de adorá-los todos.

Creio que de todos os xingamentos, ele era o adjetivo em pessoa. Estranho seria se tu ouvisse de qualquer pessoa que o conhecia, alguma palavra depreciativa.

Era meu todo, meu alívio, meus chicletes. Todos eles.

Era minha saudade de tardes não ociosas perdidas mascando chicletes e nada além, ninguém além. Eu, tu, mil chicletes e um ar, num dia quente demais para não ser utilizado em palavras fúteis e sentimentos vividos.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Resignação


Era azul. Azul mesmo, cor de céu limpo e piscina com cloro. A roupa que levemente cobria a superfície lisa de seu corpo era azul. E a discreta relevância disso era inotável. Assim como desejava que fosse.

Iria fazer uma semana que não o via, uma semana de sossego físico, não obstante não mental. Nunca mental. Depois que o conhecera nunca mais fui a mesma, e nem podia. Ele descrevia todos os tolos sentimentos que nunca me deixara sentir, traduzia minha insanidade diária.

- Devia parar de fumar - Ele dizia com a cara mais lavada em sobriedade possível, assim, como quem não liga para o fato. Ele nunca ligou, não conseguia se importar com ninguém, nem se tentasse. Mas dizia ainda, nunca parou.

- Não quero, o mundo é muito triste para vivermos sem algo a nos aliviar – Eu relatava como quem não fazia questão de respondê-lo.

- Tu deveria beber uma comigo antes de adentrar nesse sonho moral de todos, Pedro.

Engraçado como Pedro nunca havia sido de ninguém, pelo menos ninguém em especial, ele era de todas, e nenhuma sabia como ele era de verdade. Mas Marina parecia ter roubado seu ar. Sim, Marina havia roubado-o.

- Ela quer te conhecer, Helena. Fica horas suplicando um encontro. Quer saber quem é essa que tanto falo. – Ele dizia com um entusiasmo nunca antes demonstrado.

Sabia o jogo de Marina, era jogo de mulher, não a julgava, estava certa de ter ciúmes. Eu é que não estava.

Agente se conhecia sem palavras, pelo contrário, o silêncio era a parte que faltava naquela sintonia amigável toda. O triste foi percebê-lo demais.

- Descerei para comprar mais cigarros, Pedro. Ligue para ela, convide-a para vir aqui.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Suficiência

Depois de percorrer todo aquele ambiente nostálgico havia visto-a, de fato era a única que queria enxergar, a que me fazia bem. Reparo à multidão de amigos a seu redor, não esperaria menos, o seu carisma era fato a qualquer um.

Ousei não falar nada por quase toda aquela cerimônia, não pude. Não agüentava não abraçá-la todos os dias.

Significativo era cada palavra bondosa ou amiga que me devotava a toda hora. Eu, a menina que nunca estava feliz com nada. Ela, a que sempre era feliz pra me fazer melhor.

Bizarro como depois de cada conversa ou bebida, éramos amigas, e isso bastou. Bastava seus braços me envolverem pra notar que o mundo tem sentido sim, e que as pessoas podem ser perfeitas. E eu necessitava da presença dela, mesmo que fosse apenas física. Ainda não conseguira pensar no futuro com a sua ausência, não me passava pela cabeça uma vida sem ela para me segurar em cada deslize.

A menina que me olha com olhos que afagam, que amo com o mais inocente sentimento possível, que me conquistou sem eu perceber.

Não sobreviveria sem ela, e nem tentaria. Minha amiga de pouco, eterna de mundo.

À ti. E mais nada.