domingo, 7 de novembro de 2010

Queijos e vinhos.


Queijo. Ela me vinha como queijo.
Sim, amarelo, verde, saboroso, de todos os formatos e de vários sabores. Queijo. Com texturas distintas e aparência peculiar. Queijo cheiroso. Queijo light. Queijo meu. Meu queijo amarelo.
Um cheiro de felicidade ela possuía. Cheiro inexplicável aquele, que não passava, fosse a qualquer hora ou dia. Cheiro que me afetava, que me consumia, que acalentava as aflições, que consolava a alma furada de anos de estrago. Cheiro de flor? De calêndulas ou macadâmias? Não. Não era. Era um cheiro novo, um cheiro diferente, nunca sentido. O cheiro dela.
Ela me corrigiria a qualquer falha acadêmica; diria que estava equivocada e que o que dizia não fazia o menor sentido, e eu aceitaria. Como não? Ela sabia de peixes e fadas. Ou seriam números e tempo? Creio ser todos. Não ousaria debater com seu conhecimento, sabia que perderia. Pra ela sim.
Bizarro como a construção de meu passado com todas as outras escolhas haviam sido opostas, bizarro como eu sabia-me mais que a todas, exceto com ela. Exceto por ela.
E eu me entregava, pouco a pouco, de quando em quando lá e acolá, de quandos injustos de poucos momentos, de devaneios de horas e álcoois, de abismos inesperados e carícias desejadas.
E assim que percebesse, eu estaria perdida. Tentaria me buscar naquela viagem de ida e acabaria com tudo. Acabaria e voltaria atrás, tentando reembolsar aquela passagem de volta, e reembolsaria, já reembolsei. Embora o preço nunca fosse totalmente restaurado, eu estaria feliz. Sim, feliz por estar na viagem novamente, feliz. Só feliz, e com medo, muito medo.
Impossível não temer, ou sequer não se entregar àqueles olhos de ressaca. Olhos que me sentiam, olhos que me enxergavam como ninguém mais. Olhos que prediziam atos ou aceitariam besteiras. Olhos, ou ouvidos, ou nariz, ou corpo, ou mãos, ou ela, ou eu.
E nós. E eu era. Hoje eu era. Não mais eu, era ela, dela. E não conseguia largar disso, desse sonho de mil quilômetros ou loucura de quase alguns meses. Não conseguia desprender dessa sanidade de palavras. Ou dessa viagem incerta. Viagem minha.
Pudera, nunca um queijo combinou tanto com um vinho barato ou uma idéia num rascunho. Ou num papel, na calculadora.
Um queijo, ou frango, ou porco, ou morango. Todos com vinho, ou sem nada. E comigo.