Chicletes. Chicletes saciavam-me. De todos os formatos e sabores. Quaisquer que fossem, não importava mais. Ele me preenchia. Não necessitava mais do que um simples chiclete na calçada para perceber que era raro, que era pra mim. Naquele singular momento ele era minha conversa mais sincera. Ele era meu, por um instante que fosse, por um chiclete. Ele era meu amigo. Bonito era como ele voltava toda a atenção a mim, como conseguiu se desprender de tudo e notar-me. Bonito era como num olhar a gente se compreendia, como em uma palavra a gente se consolava. Bonito era ele, sempre fora.
Altruísmo, a melhor palavra para designá-lo. Isso se pudesse limitá-lo à palavras. Não podia, nem devia. Ninguém devia. Ele fora todas as minhas, todos os choros e consolos, todas as músicas e risadas, fora o que me fizera passar, e viver. Passaria horas em silêncio à sua companhia, e não precisaria de mais nada.
Com ele, eu era eu, e ele era ele, e isso, essas pequenas palavras juntas, era o que me fazia amá-lo.
De fato, o amo. Ouso ainda dizer que era o único em minha vida, meu único homem, meu melhor amigo.
Era repleto de sentimentos, completamente afundado neles. Não conseguiria não amar àqueles que ama, nem se tentasse. Não conseguiria ser rude ou grosseiro, não conseguiria não pensar em cada pessoa individualmente. Era incapaz de ser frio, ou sequer falso.
Escritor, um exímio escritor. Amante das palavras e histórias, amante do objeto, do assunto pelo qual adorava escrever. Sortuda era quando dividia seus textos comigo, não pude deixar de adorá-los todos.
Creio que de todos os xingamentos, ele era o adjetivo em pessoa. Estranho seria se tu ouvisse de qualquer pessoa que o conhecia, alguma palavra depreciativa.
Era meu todo, meu alívio, meus chicletes. Todos eles.
Era minha saudade de tardes não ociosas perdidas mascando chicletes e nada além, ninguém além. Eu, tu, mil chicletes e um ar, num dia quente demais para não ser utilizado em palavras fúteis e sentimentos vividos.